Farol Ancestral https://farolancestral.com.br Sabedoria Ancestral Para Transformar Realidades Tue, 06 May 2025 17:33:53 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.1 https://farolancestral.com.br/wp-content/uploads/2024/12/cropped-icone-512x512-1-32x32.webp Farol Ancestral https://farolancestral.com.br 32 32 Sensacionalismo Religioso: Uma visão sobre a TikTokização da Fé https://farolancestral.com.br/tiktokizacao-da-fe-critica-a-sensacionalismo/ https://farolancestral.com.br/tiktokizacao-da-fe-critica-a-sensacionalismo/#respond Tue, 06 May 2025 17:33:46 +0000 https://farolancestral.com.br/?p=2410 A matéria publicada no UOL em 2 de maio de 2025, com o título “TikTok e fé: religiosos criticam banalização de rituais de matriz africana”, levanta uma questão pertinente e relacionada ao Sensacionalismo Religioso: o uso inadequado das redes sociais por praticantes e simpatizantes das religiões afro-brasileiras.

No entanto, o artigo erra ao tentar acertar. Ao abordar um problema real com viés sensacionalista, sem critério equilibrado de representação e sem compromisso com a coerência interna, o texto contribui para a mesma desinformação e confusão que afirma combater.



Incoerência e Representatividade

O primeiro problema do artigo está na seleção de vozes para representar a crítica. Seria mais coerente apresentar um panorama geral das referências convocadas para contribuir com a matéria, para, de tal forma, evitar que os leitores, ao pesquisarem as redes sociais dos participantes, não encontrem os mesmos conteúdos denunciados. Antes de apontar dedos, é necessário observar se há incoerências que enfraquecem a denúncia e expõem a matéria a um viés de hipocrisia jornalística.

Não estou imputando erros aos participantes, mas acredito que, quando há uma preocupação maior com a transparência de se mostrar o trabalho pregresso do colaborador, a validação da argumentação se torna mais sólida. Com um assunto de extrema importância, é necessário ser criterioso ao máximo. A validação de fontes por meio de seus títulos é importante, mas é necessário muito mais para que se aborde o assunto de uma maneira sólida.

Apenas Sensacionalismo, Racismo Reverso ou Racismo Velado?

No afã de defender o sagrado, o artigo incorre no julgamento seletivo: condena a exposição de alguns enquanto silencia ou exalta a de outros, como se o problema estivesse na origem racial da pessoa — e não na intenção ou no conteúdo do que se expõe.

Essa abordagem racializada, além de perigosa, é reducionista. Pierre Verger, criticado no texto, é reconhecido por muitos sacerdotes negros tradicionais, que viram em sua obra um registro respeitoso e valioso de saberes preservados oralmente.

Apagar esse legado é também apagar o aval dado por quem, de dentro, lhe abriu as portas. É transformar ressentimento em pauta militante, e antagonismo em método. Não existe Racismo Reverso, existe Racismo, que é uma via de duas mãos!

O Problema Real Não Tem Cor

Os erros que ocorrem nas redes são reais: exposição indevida de ritos fechados, vulgarização do sagrado, promessas mercantilizadas, uso da religião como trampolim para fama e lucro.

Mas esses erros não têm cor. São cometidos por pessoas de todas as origens — incluindo iniciados e não iniciados, negros e brancos, praticantes e oportunistas. Reduzir a crítica à questão racial ignora a raiz do problema e cria um falso antagonismo que em nada contribui para o amadurecimento do debate.

O que o Candomblé Ensina

O Candomblé é uma religião ancestral, plural, inclusiva e profundamente ética. Sempre soube integrar, de forma cuidadosa, pessoas de diferentes origens. O que importa é a conduta, o compromisso com o axé — e não a cor da pele.

Invalidar a participação de alguém apenas por ser branco é rasgar o princípio fundamental da iniciação: a transformação do ser pela espiritualidade, e não pela identidade étnica.

Informação é Poder, e Responsabilidade

Um jornalismo que se propõe a falar sobre religiões de matriz africana deve, antes de tudo, demonstrar respeito pelas suas complexidades. Isso significa ouvir vozes diversas, comparar práticas e discursos, apresentar os problemas com clareza — mas também com responsabilidade.

Não se combate a exposição banal com uma exposição sensacionalista. Não se educa com clichês ideológicos. Não se honra o sagrado com ruído.

O Perigo de Uma Distração na Linha Editorial

Há um outro ponto preocupante do artigo que é o uso da imagem da respeitada Casa Fanti Ashanti, sem que se deixe claro se a casa foi consultada ou se sua imagem está apenas sendo usada como ilustração simbólica. A ambiguidade visual, somada à ausência de menção direta a qualquer representante da casa, expõe a instituição a uma possível associação indevida com a crítica feita no texto.

Essa ambiguidade semântica está logo no primeiro parágrafo imediatamente à esquerda da imagem, que trata de uma situação constrangedora ao perguntar se é “estranho” assistir a uma live com uma pessoa incorporada. A pergunta sugere que há algo de incômodo ou até “fora do lugar” nessa prática.

E então vemos a imagem de uma mulher ajoelhada em traje ritual tradicional do Candomblé, com a legenda: “Imagem: Reprodução / Instagram casa.fanti.ashanti”. A associação implícita pode induzir o leitor desavisado a pensar que essa imagem ilustra a situação “incômoda” descrita no texto, o que seria altamente injusto e desrespeitoso à Casa Fanti Ashanti. Em nenhum momento do texto a Casa Fanti Ashanti é citada como fonte ou voz consultada.

Isso agrava o problema, pois a imagem da casa é utilizada sem deixar claro se ela concorda ou discorda do teor da matéria — o que pode comprometer sua reputação, sugerindo envolvimento ou anuência com algo que talvez a própria casa não endosse.

Em um tema tão sensível, é inaceitável que se utilizem imagens de casas tradicionais sem que haja um posicionamento claro e legítimo de seus representantes. Além disso, causa estranheza que nenhuma casa matriz — entre aquelas responsáveis por salvaguardar as tradições do Candomblé — tenha sido ouvida ou citada como referência.

A matéria não menciona nenhuma roça tradicional com autoridade histórica ou iniciática que represente o Candomblé mais antigo e estruturado. Faltam representantes de casas como Ilê Axé Iyá Nassô Oká, Gantóis, Bate-Folha, Muritiba, Ventura, Bogun, Casa de Oxumarê, dentre outras que guardam os pilares do culto do Candomblé. Isso revela uma falta de profundidade na curadoria jornalística. O artigo fala sobre “banalização”, mas ignora justamente quem zela pela manutenção do sagrado com legitimidade.

O resultado é uma crítica desancorada, superficial, e que desconsidera as estruturas reais que zelam pelo culto. Se é para falar de respeito ao sagrado, que se comece respeitando quem o representa com autoridade.

Candomblé: O Que Realmente Fortalece o Sagrado

A melhor forma de combater a banalização é oferecer conteúdo de qualidade. É formar, informar, esclarecer. Mostrar que sim, há segredos — mas também há conhecimento acessível. Que sim, há limites — mas também há pontes. Que é possível falar de espiritualidade sem vendê-la como produto ou transformá-la em performance.

Para um tema que envolve a exposição pública de rituais religiosos, identidade, ancestralidade, questões raciais e responsabilidade digital, um artigo jornalístico com poucas palavras pode até atender a um padrão jornalístico médio para vender na internet, mas não é suficiente para abordar com profundidade crítica e equilíbrio todos os aspectos sensíveis que o tema exige.

O que se espera de quem tem responsabilidade com o Candomblé não é o silêncio, mas a sabedoria. E sabedoria não grita, não acusa, não generaliza. Ela orienta, acolhe e ilumina.

Apenas para reflexão

Essa crítica não tem a intenção de invalidar ou de colocar os depoimentos das pessoas consultadas para a redação da matéria em segundo plano, mas

Como será, então, para os leitores que acolheram tal denúncia, ao abrirem as redes sociais das vozes críticas e se depararem com conteúdos que promovem o mesmo mercantilismo — ou até algo mais grave — do que aquilo que se acusa?

O Candomblé não precisa ser defendido com mais brigas. Precisa ser vivido com mais verdade.

A história não tem que ser bonita. Tem que ser verdadeira.


A postura de qualquer adepto ou praticante de qualquer religião precisa ser reta. Todos nós somos seres humanos e passíveis de cometer erros, mas ainda assim é necessário ter discernimento para enxergar problemas e propor soluções. É necessário, principalmente a quem vive uma vida sacerdotal, se pautar principalmente na ética, nos nossos valores ancestrais e propagar os princípios daqueles que viveram e sofreram para que o Candomblé fosse legado a nós.

Não condeno a ideia do artigo, mas acredito que um assunto de tal complexidade precisa ser melhor abordado. Um assunto de tal magnitude precisa criar reflexão, construir pontes e não levantar muros.

Por isso, inclusive, recomendo a leitura do artigo, “A Ética no Candomblé: Compromisso e Responsabilidade”, justamente para que possamos ter uma ideia mais aprofundada de tudo que representa abordar este assunto.

Por fim, expresso meu total respeito à memória de Pierre Fatumbi Verger, que inclusive é cultuado e invocado para trazer sabedoria aos iniciados da nossa religião dentro do Culto de Egungun no Brasil.

E você, o que acha? Deixe sua opinião aqui para que possamos refletir juntos.

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Mulheres Tocando Atabaques no Candomblé: Uma Reflexão Necessária https://farolancestral.com.br/mulheres-tocando-atabaques-candomble/ https://farolancestral.com.br/mulheres-tocando-atabaques-candomble/#respond Thu, 01 May 2025 12:00:00 +0000 https://farolancestral.com.br/?p=2405 No universo do Candomblé, poucas questões causam tanto debate quanto a participação das mulheres tocando atabaques. Recentemente, publiquei um vídeo no canal Farol Ancestral abordando justamente esse tema: mulheres tocando atabaques. Este artigo é um convite para você refletir sobre essa questão conosco — e, claro, assistir ao vídeo completo para entender todas as nuances envolvidas.

Clique para assistir ao vídeo completo.


O Valor dos Toques no Candomblé: Ogã

Os atabaques não são apenas instrumentos musicais: eles são condutores da energia e da comunicação com o sagrado. O aprendizado dos toques no Candomblé é, acima de tudo, uma experiência vivencial, transmitida pelo convívio dentro dos terreiros e pelo respeito à tradição.

Além disso, cada toque carrega significados específicos, invocando diferentes forças e momentos litúrgicos. Dominar um toque não é apenas saber executá-lo musicalmente, mas entender sua energia, sua finalidade e o impacto que ele gera no Axé da casa. Por isso, o compromisso de aprender vai muito além da técnica: é um ato de responsabilidade espiritual.

Mulheres Tocando atabaques: Tradição ou Tabu a Respeito dos Nossos Toques Sagrados do Candomblé?

Historicamente, a função de tocar atabaques é atribuída aos Ogans. No entanto, nunca houve um interdito absoluto à aprendizagem musical pelas mulheres. Algumas questões culturais, como o tabu do casamento e o respeito às fases do ciclo menstrual, sempre permeiam essas discussões.

Ainda assim, a história mostra que mulheres tiveram papel fundamental na formação de muitos tocadores tradicionais, especialmente em momentos de transição e implantação do Candomblé em novas regiões, como em São Paulo.

Consciência e Respeito: Tradição do Candomblé e os Pilares Fundamentais

Dentro de cada terreiro, os fundamentos e orientações precisam ser respeitados. Mais do que polemizar, é essencial que cada um reconheça o seu papel, a sua função e os limites definidos pela tradição local. A maturidade espiritual também está em saber ouvir, respeitar e agir com consciência.

Respeitar os fundamentos de uma casa é reconhecer que a tradição é o alicerce da nossa fé. E maturidade espiritual não se demonstra apenas em dominar conhecimentos técnicos, mas em saber quando agir, quando recuar e quando se colocar no lugar que nos é designado. No Candomblé, o sagrado é vivo e, por isso, exige de nós humildade, paciência e escuta constante.

Mulheres no Candomblé: Assista ao Vídeo Completo

No vídeo — à luz de um caso real — abordo:

  • As vivências musicais no Candomblé;
  • A influência da cultura musical de lugares como Salvador;
  • A importância do olhar técnico sobre os toques;
  • Os tabus tradicionais explicados de forma didática;
  • E, claro, a minha opinião pessoal, baseada na experiência e no respeito à religião.

Não deixe de assistir!

Assista agora: Mulheres Tocando Atabaques no Candomblé — Reflexão e Respeito

O vídeo traz uma reflexão bem interessante, com exemplos práticos, para que todos nós tenhamos argumentos sólidos ao formar qualquer opinião sobre o assunto, nos apartando de argumentações rasas que em nada contribuem para o Candomblé. Não deixe de curtir o vídeo e compartilhar o link nas suas redes sociais, para que assim possamos fomentar mais discussões sadias e que podem ajudar a transformar a maneira como algumas pessoas ainda enxergam nossa religião.

Na descrição do vídeo, deixo o link para a postagem original para que todos possam ver o conteúdo que motivou esta reflexão e assim cada um tirar suas próprias conclusões.


Se você é apaixonado pela nossa cultura, pela música sagrada e pelo fortalecimento consciente da nossa religião, este vídeo é para você. Se inscreva no canal e ative o sininho para não perder mais conteúdos como esse. Fique atento ao blog para mais artigos informativos.

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Conscientização Racial e Presença Consciente: A Reflexão de Pelé para um Futuro sem Divisões https://farolancestral.com.br/conscientizacao-racial-presenca-respeito/ https://farolancestral.com.br/conscientizacao-racial-presenca-respeito/#respond Wed, 30 Apr 2025 12:00:00 +0000 https://farolancestral.com.br/?p=2397 A luta pela conscientização racial é uma caminhada que exige sabedoria, estratégia e maturidade. Em 1977, Pelé, o maior ícone do futebol mundial, concedeu uma entrevista em que abordou o tema de maneira surpreendentemente atual: a importância de transformar o mundo através do respeito, da dignidade pessoal e da união.



O Contexto da Fala: Pelé, 1977

Respondendo perguntas de telespectadores, em meio a expectativas de que defendesse ativamente a “raça negra”, Pelé respondeu com serenidade. Para ele, a mudança verdadeira viria não através do radicalismo, mas do exemplo. Seu reconhecimento mundial, conquistado sem abrir mão da identidade negra, era prova de que a dignidade individual podia abrir portas onde a hostilidade construiria muros.

“Eu não mudei a minha cor para estar lá. Eu estava como negro.” — declarou Pelé.

Dignidade, Respeito e Estratégia

Pelé propõe uma visão estratégica: agir com integridade, ganhar respeito genuíno e, assim, ajudar a mudar percepções. Sua fala não ignora o racismo existente, mas sugere que a resposta mais eficaz é a presença consciente e transformadora.

O exemplo que ele dava era poderoso: ser recebido pela ONU como “Cidadão Mundial” em uma época em que o preconceito ainda era brutalmente escancarado.

A Ilusão das Promessas Políticas

Durante décadas, o Povo Preto e o Povo de Santo depositaram esperanças em promessas políticas, especialmente de setores ideológicos que se apresentavam como aliados. Mas a história recente do Brasil mostra que, mesmo após longos períodos de governos destes setores no poder, a transformação real — aquela que traria protagonismo, respeito e reconhecimento efetivo — não se concretizou.

A ausência de resultados palpáveis é um convite à reflexão: vale a pena insistir em plantar em um solo que não dá frutos?

Cultivar o que dá Frutos

Pelé ensina, com sua trajetória, que é possível florescer mesmo em terrenos hostis. A estratégia é cultivar a excelência, a dignidade e o respeito, mostrando ao mundo, através da própria presença, que somos maiores do que as tentativas de marginalização.

Não se trata de submissão ou conformismo, mas de inteligência política: fortalecer-se, construir redes, ocupar espaços de forma consciente e respeitável, até que não se possa mais ignorar nossa existência.

O Perigo da Radicalização

A radicalização cega, muitas vezes, isola em vez de fortalecer. Ao assumir posturas extremadas, perde-se a capacidade de dialogar com quem ainda precisa ser convencido. Constrói-se um “nós contra eles” que apenas perpetua a divisão que tanto se deseja superar.

Pelé compreendia isso: é preciso ser ponte, não trincheira.

Amor que Não Vê Cor

Na entrevista, Pelé também fala do amor sem fronteiras raciais, usando seu casamento como exemplo. “A gente não escolhe quem amar.” Essa é talvez a mais poderosa mensagem: o amor, a empatia e o respeito são armas mais fortes do que qualquer discurso que tente nos minimizar ou apagar nossa cultura.

O Futuro Exige Presença Consciente

A verdadeira revolução é sermos reconhecidos pelo que somos: completos, dignos, plenos.

A fala de Pelé em 1977 não é um apelo à omissão, mas à estratégia madura: construir respeito através da presença, e não da exclusão; através da consciência, e não da militância cega.

FAQ – Perguntas Frequentes

O que é conscientização racial?

Conscientização racial é o reconhecimento da história, cultura e dignidade do povo preto, sem vitimização, buscando respeito e igualdade através do conhecimento e da presença ativa.

Radicalizar é a melhor solução contra o racismo?

Não necessariamente. O radicalismo pode isolar e alimentar divisões. A transformação duradoura vem da ação inteligente e da presença construtiva.

O que significa presença consciente?

Significa agir com consciência de quem somos, respeitando a história, mas também construindo pontes de futuro, sem se aprisionar em narrativas que nos limitam.


Quer refletir mais sobre presença, consciência e resistência?
Leia também: Conscientização Racial e Criminalização Seletiva: O Caso Juliana Arcanjo

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Prosperidade Espiritual Verdadeira nas Religiões. Presença ou Aparência? https://farolancestral.com.br/presenca-aparencia-prosperidade-espiritual/ https://farolancestral.com.br/presenca-aparencia-prosperidade-espiritual/#respond Tue, 29 Apr 2025 12:00:00 +0000 https://farolancestral.com.br/?p=2400 A verdadeira prosperidade espiritual não se mede pela quantidade de ouro acumulado, pelos títulos conquistados ou pelos monumentos erguidos em nome da fé. Ela se revela na simplicidade, na compaixão, no servir. Em tempos em que a ostentação invade até mesmo os espaços sagrados, este artigo é um convite à reflexão: que pegadas estamos deixando em nossa jornada espiritual?



A Beleza dos Sapatos Gastos

Recentemente, uma fala emocionada de um pastor protestante trouxe à tona um símbolo poderoso: os sapatos gastos do Papa Francisco. Ao pedir para ser enterrado com seus sapatos simples, marcados por caminhadas entre refugiados, prisões e periferias, Francisco nos lembrou que a verdadeira grandeza espiritual está nas pegadas deixadas por onde o amor precisou chegar.

A Bíblia diz, em Romanos 10:15: “Quão formosos são os pés dos que anunciam as boas novas”. É sobre a história que carregamos nos pés, não sobre sua aparência.

A Prosperidade que a Tradição Ensina

A chamada “teologia da prosperidade” é frequentemente distorcida. Devo lembrar que a verdadeira prosperidade não é a ostentação religiosa, mas a vida plena — aquela em que não nos falta o essencial: dignidade, alimento, paz de espírito.

“O Senhor é meu pastor, nada me faltará” (Salmo 23). Nada, aqui, não é sobre riqueza material ilimitada, mas sobre a plenitude de quem tem o que é necessário para viver com alegria e propósito.

Como disse o apóstolo Paulo: “Aprendi a contentar-me com o que tenho” (Filipenses 4). A prosperidade verdadeira é ser inteiro, e não apenas ter muito.

O Candomblé e o Esquecimento da Simplicidade espiritual

No universo do Candomblé, observamos hoje um fenômeno preocupante: a crescente ostentação.

Casas luxuosas, sacerdotes adornados com joias gigantescas, uma cultura que, muitas vezes, confunde prosperidade espiritual com exibição de riqueza material.

No entanto, nossos mais velhos sempre ensinaram que a força de um Orixá não se mede pelos adornos, mas pela presença vibrante do Axé. A nobreza de um sacerdote não está em suas insígnias, mas na retidão de seu caráter e na grandeza de seu serviço ao coletivo.

A Cultura da Ostentação e o Esvaziamento do Sagrado

Quando a religião vira vitrine, o sagrado se esvazia.

Transformar o terreiro, o templo ou a igreja em palco de ostentação é trair a essência da fé.

A espiritualidade se torna produto; o Axé vira mercadoria; o Evangelho vira pretexto para acúmulo. Mas onde está o legado? Onde está o amor que se gasta pelo outro?

Como alertou o orador, “os pés que anunciam as boas novas se gastam, se sujam, se cansam”. O luxo dos tronos vazios não substitui a beleza silenciosa dos sapatos gastos.

Grandeza Sem Ostentação

No Candomblé, a celebração das Águas de Oxalá é uma límpida memória da verdadeira prosperidade espiritual.

Todos — do mais alto sacerdote ao mais recente iniciado — se vestem de branco, põem os pés no chão e carregam água para banhar Oxalá, nosso pai maior.

A história é uma poderosa alegoria: Oxalá, representante da pureza de Olòdùmarè entre os Orixás, foi preso injustamente, despido de qualquer riqueza ou adorno. Manteve sua dignidade silenciosa, resistiu à humilhação e, no fim, foi reconhecido. Reis e plebeus tiveram que se curvar diante de sua retidão.

A lição é eterna: quem é grande, permanece grande mesmo sem coroa. Quem tem Axé, irradia, mesmo despido de ornamentos.

Recuperar a Essência: Presença, Não Aparência

O desafio para todas as religiões, para todos os credos, é o mesmo: retomar a consciência de que ser é mais importante do que ter.

Que tipo de pegadas queremos deixar?

Pegadas de compaixão, de resistência digna, de serviço silencioso? Ou pegadas que desaparecem rápido, construídas apenas na areia movediça da vaidade?

Sapatos Gastos, Coração Inteiro

O verdadeiro legado de uma vida espiritual não está nas coroas acumuladas, mas nos sapatos gastos de tanto caminhar ao lado dos que mais precisavam.

Oxalá, o Papa Francisco, os verdadeiros sacerdotes de cada tradição, nos ensinam: a grandeza não está na pompa, mas na humildade vibrante de quem se doa.

Tenho certeza de que muita gente vai ler este artigo e se perguntar por qual motivo eu tive que usar referências cristãs se eu sou do Candomblé. E a única resposta que tenho para dar é a de que a sabedoria, a verdade e Deus estão em todos os lugares. As pessoas só precisam abrir seus olhos para poder enxergar.

É preciso deixar as ilusões de lado e se reconectar com o sagrado. Eu espero que possamos recalçar nossos passos. Que possamos abandonar os tronos estéreis e buscar a sabedoria silenciosa das pegadas dos nossos antepassados e ancestrais.

Porque no fim da jornada, o que o mundo mais vai lembrar não serão nossos monumentos, mas as marcas de amor que deixamos no chão.

Na minha família de Axé, minha falecida Mãe Nilzete foi talvez o maior exemplo disso. Era mulher simples, usava roupas simples, de Chita, dividia o que tinha com quem precisava, foi mãe de verdade para muitos e até hoje sua memória é celebrada pela essência de quem ela realmente era. Seu legado será eterno, mas e o nosso? Você já parou para se perguntar como as pessoas se lembrarão de você? Por quanto tempo as pessoas se lembrarão de você?


FAQ – Perguntas Frequentes

O que é prosperidade espiritual?

Prosperidade espiritual é a plenitude de vida em que se tem dignidade, paz, amor e propósito, independentemente da riqueza material.

Ostentação e fé são incompatíveis?

Sim, quando a ostentação vira foco e esvazia o sentido de serviço, humildade e compaixão que deveriam ser a base da espiritualidade.

O que as Águas de Oxalá ensinam?

Ensinam que a verdadeira grandeza espiritual é reconhecida pela dignidade silenciosa, pela resistência humilde e pela presença consciente, e não pelos adornos materiais.


Quer refletir ainda mais sobre presença consciente e legado espiritual?
Leia também: A Ética no Candomblé: Compromisso e Responsabilidade

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Racismo Religioso e Criminalização Seletiva: O Caso Juliana Arcanjo e o Direito dos Povos de Santo https://farolancestral.com.br/racismo-religioso-entendendo-juliana-arcanjo/ https://farolancestral.com.br/racismo-religioso-entendendo-juliana-arcanjo/#respond Mon, 28 Apr 2025 12:00:00 +0000 https://farolancestral.com.br/?p=2394 A luta contra o racismo religioso no Brasil ganhou um capítulo simbólico com a absolvição de Juliana Arcanjo pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Este artigo, inspirado em um comentário jurídico do Dr. Hédio Silva Júnior — advogado, fundador do JusRacial e do Idafro —, propõe uma reflexão madura e estratégica sobre a desigualdade de tratamento das práticas religiosas afro-brasileiras.



Por que Práticas Religiosas Afro-Brasileiras Recebem Tratamento Desigual?

Historicamente, religiões de matriz africana têm sido marginalizadas. Entretanto, é preciso refletir se todo caso de conflito jurídico representa efetivamente uma perseguição religiosa, ou se, muitas vezes, não estamos diante de estratégias oportunistas em disputas individuais, potencializadas pela ausência de regulamentação específica sobre nossas tradições.

Racismo Religioso: O Caso de Juliana Arcanjo

Em 2001, Juliana Arcanjo e sua filha, então com 11 anos, passaram pela iniciação religiosa no Candomblé. Durante o rito, foi realizada a escarificação ritual (gbèrè, em yorùbá) — pequenas microincisões superficiais na pele, feitas com todo o cuidado, assepsia e respeito espiritual.

Posteriormente, em meio a um conflito judicial pela guarda da menina, a prática foi usada como argumento para tentar configurar lesão corporal grave. Nota-se aqui possível estratégia jurídica maliciosa, aproveitando-se da falta de normatização sobre a escarificação religiosa.

A Aplicação Seletiva da Lei Penal

O caso expõe uma incoerência que merece reflexão: enquanto a escarificação religiosa foi tratada como lesão grave, práticas culturais semelhantes — como a circuncisão judaica e islâmica, ou o furo de orelhas em bebês — nunca sofreram contestação criminal.

Talvez, até então, ninguém tenha tentado explorar essas práticas em litígios de forma oportunista. Este caso é um alerta para todas as comunidades tradicionais: sem regulamentação adequada, todas as tradições ficam vulneráveis.

Criminalização da Religião: O Que Está Por Trás Dessa Seletividade?

É fundamental reconhecer que a vulnerabilidade das religiões de matriz africana não reside apenas na hostilidade direta, mas também na falta de presença política, jurídica e legislativa.

Não se trata apenas de “racismo estrutural” — é a ausência de iniciativas concretas que reconheçam e protejam legalmente nossas práticas culturais. A invisibilidade normativa abre espaço para que agentes maliciosos explorem nossa tradição como argumento de ataque.

A Vitória no STJ: Um Passo Importante, Mas Insuficiente

O Superior Tribunal de Justiça confirmou a absolvição de Juliana Arcanjo. A decisão foi justa e importante.

Mas cabe uma reflexão: a igualdade plena está distante porque faltam direitos reconhecidos e formalizados, não apenas porque há preconceito. Precisamos sair da cegueira militante que transforma qualquer conflito em “moinhos de vento” e focar na construção efetiva de garantias.

Povo de Santo: Caminhos Para o Futuro

O caminho não é a ocupação barulhenta: é a presença consciente e transformadora.

  • Incentivar a formação jurídica no povo de santo.
  • Criar comissões técnicas para legislação específica.
  • Fortalecer a presença ativa e qualificada em espaços de decisão.
  • Construir alianças com outras tradições culturais ameaçadas pela mesma falta de regulamentação.

A mudança virá da estratégia, do conhecimento e da ação inteligente.

Liberdade Religiosa no Brasil: Conhecimento Ancestral e Consciência Crítica

Precisamos valorizar o nosso conhecimento ancestral — não apenas como resistência, mas como ferramenta de transformação social.

Não basta existir: precisamos estar presentes, conscientes e construtivos em cada espaço que é nosso por direito.


FAQ – Perguntas Frequentes

O que é escarificação religiosa?

Escarificação religiosa, ou gbèrè (termo yorùbá), é a prática de fazer pequenas incisões superficiais na pele como parte de rituais de iniciação e proteção espiritual.

Por que ela é importante no Candomblé?

A escarificação marca a ligação espiritual entre o iniciado e seu Orixá, sendo considerada uma assinatura sagrada.

A escarificação é ilegal?

Não há uma lei específica que proíba a escarificação religiosa. Quando realizada de forma consciente e segura, no contexto espiritual, é protegida pela liberdade religiosa garantida na Constituição.


Quer saber mais sobre a cultura e os direitos do povo de santo?
Leia também: A Postura de um Sacerdote no Candomblé e sua Importância
Compartilhe este artigo com quem precisa refletir sobre respeito, tradição e justiça!

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Macumba Pode Quebrar Suas Finanças? Entenda o Que Está Te Impedindo de Prosperar https://farolancestral.com.br/macumba-pode-quebrar-suas-financas-entenda/ https://farolancestral.com.br/macumba-pode-quebrar-suas-financas-entenda/#respond Fri, 25 Apr 2025 12:00:00 +0000 https://farolancestral.com.br/?p=2373 A sua vida financeira desandou de repente e você pensou: “fizeram macumba pra mim”? Talvez sim. Mas, na maioria dos casos, o maior inimigo da sua prosperidade pode ser… você mesmo.

Neste vídeo, vamos refletir sobre como forças espirituais podem interferir na vida material — mas também sobre como a má gestão, a falta de atenção e o consumo inconsciente são fatores silenciosos que sabotam nosso caminho rumo à prosperidade.

Clique aqui para assistir ao vídeo no Youtube.


Macumba pode atrapalhar suas finanças?

Sim, pode. Trabalhos espirituais negativos, feitiços e demandas existem — especialmente quando feitos por pessoas movidas por inveja, rancor ou frustração. Muitos recorrem a encantados e entidades espirituais para atacar quem consideram “inimigos”, principalmente em contextos de ciúmes, disputas afetivas ou ressentimentos familiares.

Mas é preciso maturidade espiritual para reconhecer que, embora isso aconteça, a maioria dos problemas financeiros não vem de macumba, e sim de decisões mal pensadas.

Desatenção financeira é um tipo de vulnerabilidade espiritual

Quando estamos desorganizados financeiramente, deixamos brechas. Gastos impulsivos, ausência de planejamento, consumo por status ou necessidade de aceitação são comportamentos que nos colocam em uma posição de fragilidade emocional, energética e espiritual.

O universo não premia a desatenção. Como diz o ditado: “dinheiro não aceita desaforo”. E mesmo com fé, proteção espiritual e bori em dia, quem gasta mais do que ganha está cavando a própria cova material.

A fé não dispensa o bom senso

Aquela história da pessoa que se afoga esperando Deus mandar ajuda, mas recusa o barco, o jetski e até o helicóptero… serve perfeitamente para esse tema. A espiritualidade envia sinais, oportunidades, avisos — mas é você quem precisa tomar as decisões certas.

A transformação só acontece quando saímos do papel de vítima e assumimos nossa responsabilidade diante da vida. Inclusive, esse é um dos maiores fundamentos do Candomblé: equilíbrio.

Por que espiritualidade e educação financeira andam juntas

É comum ouvirmos frases como “Deus proverá” ou “meu Orixá me dá tudo que preciso”. E sim, há verdade nisso. Mas o Orixá não deposita salário, não controla seu cartão de crédito e muito menos lê contrato antes de você assinar.

É preciso buscar conhecimento — inclusive sobre finanças. Planejar, organizar, ter consciência sobre o que se consome e onde se investe é tão importante quanto manter sua casa espiritual em ordem.

Fé sem ação é ilusão. E ação sem direção é perda de energia.

Feitiço pega mais fácil em quem já está vulnerável

Se houver uma demanda contra você, ela só encontrará terreno fértil se você estiver aberto, desorganizado, desatento, sem proteção ou desequilibrado emocionalmente. Isso vale tanto para a saúde espiritual quanto para a vida prática.

Se você vive de forma honesta, justa, com bom caráter e responsabilidade material, até pode ser atingido — mas a queda será menor, e a recuperação, mais rápida.

A influência do consumo digital e das redes sociais

Vivemos cercados por estímulos que nos incentivam a gastar: publicidade, ostentação online, comparação social. Tudo isso alimenta um comportamento impulsivo, onde compramos o que não precisamos para mostrar algo que não somos, com dinheiro que não temos.

Essa é a nova forma de “demanda” coletiva: uma sociedade que vive para consumir, mesmo que isso custe a paz.

Fé com consciência prospera muito mais

Se você já culpou macumba pela sua situação financeira, tudo bem. Muitos de nós já fizemos isso. Mas se quiser prosperar de verdade, comece pelo que está ao seu alcance: organize sua vida, reveja seus hábitos, ouça os sinais e caminhe com consciência.

O universo responde à intenção, mas também exige atitude. E o sagrado nos acompanha, mas não caminha por nós.


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Exu Tem Igreja? | Descubra o Que Não Te Contaram Sobre Essa Polêmica! https://farolancestral.com.br/exu-tem-igreja-descubra-o-que-nao-te-falaram/ https://farolancestral.com.br/exu-tem-igreja-descubra-o-que-nao-te-falaram/#respond Thu, 24 Apr 2025 12:00:00 +0000 https://farolancestral.com.br/?p=2369 Mais uma polêmica movimenta as redes sociais: a criação de uma suposta “Igreja de Exu”. Com isso, surge uma enxurrada de dúvidas, críticas, defesas inflamadas e, como sempre, o Candomblé é arrastado para o centro de uma discussão que muitas vezes nem lhe pertence.

Mas afinal, Exu tem igreja? E se tem, que Exu é esse? O que tudo isso realmente tem a ver com o Candomblé? No vídeo, esclareço para você, com base na tradição, o que é Exu dentro do culto africano e o porquê dessa ideia ser completamente incompatível com os fundamentos do Candomblé tradicional.

Clique para assistir ao vídeo no Youtube.


Quem é Exu no Candomblé e nas religiões africanas

No Candomblé, Exu é um Orixá, uma divindade de origem africana, especificamente da cultura iorubá. Exu não é uma entidade, não é um espírito desencarnado, tampouco é uma figura sinistra como o cristianismo tentou pintar.

Exu é o princípio da comunicação, da ligação entre o humano e o divino, responsável por abrir caminhos e garantir que as mensagens cheguem aos Orixás. É parte integrante de uma liturgia ancestral complexa, com ritos próprios, cânticos em idioma africano, oferendas específicas e fundamentos que fazem parte do culto familiar Yorùbá.

Encantados não são Orixás

Ao contrário do que muitos pensam, entidades como Tranca Ruas, Exu Caveira, Maria Padilha ou Pombagira Sete Saias não são Orixás. São encantados — espíritos que viveram na Terra, alcançaram certo grau de evolução e passaram a atuar como guias espirituais em outras religiões, como a Umbanda ou a Quimbanda.

Esses encantados não recebem culto no Candomblé tradicional, que é regido por outra estrutura espiritual. No Candomblé, os Orixás não são espíritos, mas forças da natureza divinizadas por sua ancestralidade e sabedoria, com origem e fundamento próprios.

Exu Tem Igreja? Por que isso é uma contradição

A noção de “igreja de Exu” revela uma tentativa de sincretismo mal fundamentado. Igreja, enquanto instituição, está ligada à estrutura cristã: tem pastores, clérigos, doutrina escrita, culto público e uma hierarquia centralizada.

Exu, por outro lado, faz parte de uma religião de base oral, iniciática e familiar. Seus cultos não ocorrem em templos abertos ao público como igrejas cristãs, mas em terreiros estruturados por fundamentos milenares, passados de geração em geração.

Fundar uma “igreja de Exu” pode até parecer algo inovador ou respeitoso, mas ignora completamente os fundamentos do culto tradicional africano — e ainda pode reforçar estereótipos equivocados.


Umbanda, Quimbanda e Candomblé: cada um no seu lugar

É comum que, ao falar de Exu, as pessoas confundam os limites entre Umbanda, Quimbanda e Candomblé. Apesar de todas serem religiões afro-brasileiras, suas origens, doutrinas e práticas são distintas.

  • Umbanda é uma religião sincrética brasileira, que combina elementos do espiritismo, do catolicismo e dos cultos africanos.
  • Quimbanda se desenvolveu a partir da Umbanda e possui um foco maior no culto aos encantados, especialmente os chamados “Exus e Pombagiras”.
  • Candomblé, por sua vez, é uma religião tradicional africana transplantada ao Brasil. Seus fundamentos são os mesmos de cultos praticados por famílias na Nigéria, no Benim em Angola e até mesmo no Congo.

Cada uma dessas religiões merece respeito, mas é preciso compreender suas diferenças para evitar confusões como essa.


Polêmica ou estratégia de marketing?

É legítimo questionar se essa suposta “igreja de Exu” é realmente fruto de fé ou se trata de uma jogada estratégica para gerar engajamento. A verdade é que, em tempos de redes sociais, o sagrado também virou produto, e isso exige vigilância por parte das comunidades religiosas.

O uso do nome de Exu para promover produtos, eventos ou instituições pode ser uma forma de banalização e deturpação dos fundamentos ancestrais — algo que o Candomblé combate com firmeza.


Exu merece respeito, não espetáculo

Exu não tem igreja. Exu é Orixá. Exu é fundamento. É força da natureza cultuada com responsabilidade, respeito e tradição. Transformá-lo em bandeira comercial ou instrumento de espetáculo enfraquece sua essência e abre espaço para intolerância, desinformação e preconceito.

O debate é importante, mas ele só será produtivo se vier acompanhado de estudo, escuta aos mais velhos e comprometimento com a preservação da cultura ancestral. Não se trata de apontar o certo ou errado, mas de distinguir tradição de invenção, fé de espetáculo.


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Job no Candomblé | Descubra como a RELIGIÃO afeta a vida de profissionais do sexo https://farolancestral.com.br/job-no-candomble-descubra-como-lidar/ https://farolancestral.com.br/job-no-candomble-descubra-como-lidar/#respond Wed, 23 Apr 2025 12:00:00 +0000 https://farolancestral.com.br/?p=2365 O vídeo Job no Candomblé levanta um tema delicado: a presença de profissionais do sexo em comunidades religiosas afro-brasileiras, especialmente no Candomblé. Em tempos de redes sociais inflamadas, é fácil cair na armadilha de opinar sem refletir. O que se vê, muitas vezes, é a repetição de preconceitos enraizados, condenações públicas e exclusões silenciosas — muitas delas travestidas de tradição.

Mas a espiritualidade não é feita de exclusão. É feita de caminhos. De escolhas conscientes. De acolhimento e de escuta. Este artigo busca te mostrar como aprofundar o tema com respeito, responsabilidade e fundamento, te convidando para assistir ao vídeo para entender melhor.

Clique para assistir ao vídeo completo!


O que significa ser do “Job”?

Profissionais do sexo — conhecidos nas redes como “pessoas do job” — sempre existiram, são parte da história da humanidade e estão presentes em diferentes culturas e religiões. No Candomblé, não há interdito que proíba a participação dessas pessoas, e sim uma tradição de acolhimento espiritual.

No território Yorubá, termos como Àgbèrè, Aṣẹwo e Ọmọ ita definem nuances dessa prática com diferentes significados: da mulher que trabalha com o corpo, à criança da rua que sobrevive com o que tem. Esses termos revelam que o tema não é novo — e sim ancestral.

Profissionais do Job no Candomblé: Espiritualidade não combina com hipocrisia

No Candomblé, ninguém é acolhido pelo que faz — mas sim por quem é. A tradição ensina que cada pessoa carrega um destino, uma carga, uma história. Quando alguém do “job” procura um Ilê Axé, traz consigo não apenas seu corpo, mas sua alma ferida, sua busca por cura e conexão.

Exclusão, preconceito ou julgamento não cabem dentro do barracão. Mas isso exige maturidade e preparo dos sacerdotes e das comunidades.

Riscos reais: espirituais, sociais e físicos

Apesar da abertura espiritual, o vídeo alerta para os riscos elevados aos quais essas pessoas estão expostas, tanto biológicos quanto espirituais:

  • DSTs e ISTs, com destaque para o crescimento de casos como sífilis e gonorreia;
  • Ambientes carregados espiritualmente, como motéis e hotéis, que acumulam energias sem purificação;
  • Depressão, abandono, vícios e violência, que muitas vezes marcam a vida dessas pessoas, exigindo um cuidado que vai além do ritual.

A troca sexual não é só física — é energética. E essa carga espiritual exige preparo para ser neutralizada.

Tabus difíceis: gravidez e abandono

O vídeo também toca em dois tabus profundos do Candomblé: a interrupção voluntária da gravidez e o abandono parental. São temas que exigem delicadeza, profundidade e sabedoria ancestral.

A tradição valoriza a maternidade como força central da vida, mas também ensina que cada escolha traz consigo uma consequência espiritual. O ponto não é julgar — mas compreender.

E afinal, o que o Candomblé espera?

Dentro do barracão, não importa o que a pessoa faz fora dele — importa quem ela é ali dentro.
Ogãs, Ekedis, Abiãs, Yaôs… todos devem ser reconhecidos pelo seu compromisso com a espiritualidade, não pela sua profissão. Mas isso não exclui a necessidade de responsabilidade, ética e sabedoria por parte dos sacerdotes e da comunidade.

Não julgue. Acolha. Ensine.

A presença de pessoas do job dentro do Candomblé é um teste para a nossa espiritualidade prática. Não para saber quem é puro, mas para revelar quem é verdadeiramente espiritual.


Acho que essa frase resume bem o assunto: “A única coisa que eu espero é que as pessoas, dentro e fora do terreiro, tenham honra, caráter, sejam honestas e respeitem as tradições deixadas pela nossa ancestralidade.”

E isso, por si só, é o verdadeiro fundamento do axé.

Assista ao vídeo clicando aqui.

Não esqueça de avaliar o artigo e comentar o que você pensa sobre ele.

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Abian Pode Ter Santo Assentado em Casa? O Que Ninguém Vai te Contar Sobre Isso! https://farolancestral.com.br/abian-pode-ter-santo-assentado/ https://farolancestral.com.br/abian-pode-ter-santo-assentado/#respond Tue, 22 Apr 2025 12:00:00 +0000 https://farolancestral.com.br/?p=2352 No Candomblé, muitas dúvidas surgem para quem está começando. Uma das mais recorrentes é: um Abian pode ter santo assentado em casa? A resposta não é simples, e exige mais do que um “sim” ou “não”. Neste artigo, vamos refletir com base em fundamentos espirituais, conhecimento ancestral e responsabilidade litúrgica sobre esse tema tão delicado.

No vídeo do canal Farol Ancestral, eu utilizo uma analogia surpreendente — entre um assentamento de Orixá e um reator nuclear — para explicar por que esse passo espiritual exige preparo, iniciação e sabedoria. Acompanhe esta leitura e compreenda os riscos reais de tratar o sagrado como uma decoração ou um atalho espiritual.

Clique aqui e assista o vídeo completo no Youtube


A origem da dúvida: quando o sagrado vira curiosidade

Com a ampliação do acesso à informação e o crescimento das redes sociais, pessoas leigas passaram a ter mais contato com símbolos do Candomblé, como o igbá de Orixá. No entanto, sem o devido preparo ou entendimento do que está por trás desses objetos sagrados, muitos começam a desejar ter um assentamento em casa — mesmo sem iniciação, sem vivência e sem respaldo dos mais velhos.

Essa vontade, apesar de sincera em muitos casos, pode ser extremamente perigosa. O assentamento não é uma imagem decorativa nem um “reforço” espiritual. Ele representa a manifestação material de uma força ancestral que precisa ser cuidada com ritualística, fundamentos e responsabilidade.

A analogia: por que você precisa se preparar

O vídeo apresenta uma comparação poderosa: ter um assentamento de Orixá sem iniciação é como manter um reator nuclear em casa sem saber como operá-lo. A princípio, a analogia parece extrema. Mas pense bem: ambos contêm energia. Ambos requerem preparo, conhecimento técnico e equipamentos adequados para evitar danos.

Assim como a radiação pode ser invisível, mas letal, o axé (força vital) de um igbá também atua de forma invisível — e pode causar desequilíbrio espiritual se for mal manipulado. Essa é a essência da comparação: sem preparo, o que deveria ser fonte de equilíbrio pode se tornar fonte de desordem.

Abian Pode Ter Santo Assentado? Conhecimento não substitui vivência

Estudar livros, assistir a vídeos ou frequentar eventos não substitui a vivência religiosa dentro de um terreiro. O aprendizado real no Candomblé é oral, vivido e transmitido de pessoa para pessoa. Ele envolve tempo, experiência, observação e provas de conduta espiritual.

Aceitar ter um assentamento sem estar pronto espiritualmente pode significar se colocar em risco — espiritualmente, emocionalmente e até fisicamente. É por isso que a tradição valoriza tanto o preparo e a iniciação formal.

Responsabilidade no Candomblé: não se brinca com Orixá

O desejo de ter Orixá assentado em casa muitas vezes nasce de uma boa intenção, mas sem discernimento. No entanto, como reforço no vídeo, Orixá não é uma energia “para cuidar da gente” sem contrapartida. Orixá exige reciprocidade, preparo, respeito e zelo.

Além disso, a conduta de quem por algum motivo tem um igbá passa a ser observada de forma muito mais rigorosa. Como destaco no vídeo: “não é porque fulano tem que você também deve ter”. Cada destino é único e deve ser tratado com seriedade.

Abian, ouça os mais velhos: sabedoria ancestral não falha

A sabedoria dos mais velhos é um dos pilares do Candomblé. Quem já percorreu os caminhos da religião sabe o que acontece com quem pula etapas. Muitos dos desequilíbrios que as pessoas enfrentam — emocionalmente ou espiritualmente — nascem da falta de escuta e da pressa em conquistar algo que ainda não está no seu tempo.

Se você é abian e está em dúvida, busque orientação, ouça mais e faça menos perguntas com sede de confirmação do que você deseja ouvir. O tempo certo vai chegar, se for para chegar. Mas ele virá acompanhado de preparo, iniciação, fundamentos e axé.


Quer se aprofundar mais sobre sua jornada espiritual com responsabilidade? Fique de olho no blog do Farol Ancestral e leia os artigos completos sobre diversos assuntos relacionados ao Candomblé.

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Areia de Dubai no Candomblé? A Verdade por Trás Dessa Polêmica https://farolancestral.com.br/areia-de-dubai-no-candomble/ https://farolancestral.com.br/areia-de-dubai-no-candomble/#respond Mon, 21 Apr 2025 12:00:00 +0000 https://farolancestral.com.br/?p=2344 Uma polêmica envolvendo a importação clandestina de areia de Dubai, como elemento de poder em práticas do Candomblé, viralizou nas redes sociais nos últimos dias. Mas será que isso faz mesmo sentido? A espiritualidade não pode ser transformada em espetáculo. Muito menos em produto de exportação e importação.

Neste vídeo, fazemos uma reflexão sobre o uso consciente de elementos naturais, o risco da banalização litúrgica em tempos de redes sociais e como a ancestralidade é desrespeitada quando símbolos sagrados são transformados em mercadoria. Não se trata de criticar pessoas — mas de entender os limites entre tradição e oportunismo.

Clique aqui para assistir o vídeo completo no Youtube


O que é essa tal de “areia de Dubai”?

Nos relatos que circularam, alguém teria viajado a Dubai, coletado areia do local e, ao retornar ao Brasil, passou a vendê-la como insumo espiritual, associando o local de origem (símbolo de riqueza) ao poder mágico do material. Essa narrativa foi suficiente para gerar cliques, engajamento e — claro — lucro.

Mas precisamos pensar além: o Candomblé não é movido por modismos geográficos. Não é a procedência exótica do elemento que importa, e sim o seu fundamento ritual, o axé que nele é colocado e o contexto litúrgico em que será utilizado.

Espiritualidade com responsabilidade

Importar areia de outro país já envolve questões sérias de legislação ambiental e sanitária. A entrada de elementos naturais sem controle pode representar risco à saúde pública e configurar crime ambiental, de acordo com a Lei nº 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais) e normas da ANVISA e da Receita Federal. A alfândega brasileira pode aplicar multas e até prender pessoas que infringirem essas regras.

Mas, para além da legalidade, o ponto mais sensível é espiritual: oferecer como produto um material como fundamento essencial e excepcional, apenas porque “veio de um lugar rico”, é esvaziar completamente o valor simbólico e ancestral do ritual.

Exemplo simples: a ferradura?

No vídeo do canal trago uma explicação um pouco mais aprofundada. Pense na ferradura usada em alguns assentamentos de Orixá. Se ela é virgem, ainda assim tem valor simbólico. Mas o que realmente importa é o que ela representa: foi usada por um cavalo carregando mensagens, caminhos, trabalho, ela carrega história — o que a torna ainda mais poderosa.

A areia funciona da mesma forma. Ela precisa de contexto, de uso adequado, de consagração. Não é sobre a marca, o local de origem ou o apelo comercial: é sobre simbologia, fundamento e ligação com o Orixá.

A armadilha do consumo litúrgico

Vivemos um momento em que o sagrado está sendo cooptado por estratégias de marketing digital. Influenciadores vendem kits prontos, oferendas industrializadas, objetos “potencializados” e “potencializadores” sem sequer explicar sua função ritual. E o público, muitas vezes carente de orientação, compra — acreditando que está se aproximando dos Orixás, quando na verdade só está alimentando um mercado.

É preciso discernimento. O uso de objetos ritualísticos deve partir de aprendizado, iniciação e orientação dos mais velhos. Não de impulsos consumistas alimentados por vídeos virais.

Se é tão poderoso, por que vender?

A pergunta final do vídeo é talvez a mais importante: se esse elemento é tão excepcional espiritualmente, por que está sendo vendido? Por que alguém abriria mão de algo tão poderoso em troca de dinheiro? Isso por si só já deveria ser um sinal de alerta.

O Candomblé é tradição, fundamento e responsabilidade. E o papel do Farol Ancestral é justamente esse: iluminar, orientar e preservar. Com consciência, sem espetáculo.

Assista o vídeo completo

Vídeo no YoutubeAreia de Dubai no Candomblé? A Verdade por Trás Dessa Polêmica


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